9/22/13

Sobre medo e amor

Um dia eu ouvi um sábio dizer que a vida se tornaria muito melhor se eu conseguisse tratar com amor tudo o que eu estava tratando com medo. Talvez eu não tenha entendido o que ele queria dizer, é provável que eu ainda não entenda. Mas me comprometi a tentar e tenho tido experiências bem interessantes desde então.

Perto de casa, há um bosque cheio de pequenas trilhas e árvores centenárias. À beira de uma dessas trilhas, há uma pedra relativamente lisa com pouco menos da metade de minha altura e, que deve pesar mais de meia tonelada. Essa pedra é parte do cenário que já presenciou momentos de intenso aprendizado e reflexões mas essa estória tem um significado bem especial pra mim.

Uma vez, resolvi sentar-me nessa pedra, fechar os olhos e fortalecer os contatos que tenho com o mundo através dos outros canais: audição, tato, olfato. Nesse caso específico, achei melhor não fazer nenhum experimento com o paladar enquanto mantinha os olhos fechados.

Sentado naquela pedra, apreciando momentos de uma manhã fresca à sombra das árvores, enquanto mantinha os olhos fechados, eu conseguia ouvir o barulho da brisa nas folhas, o canto dos pássaros, o toc-toc de um pica-pau na árvore ao lado e o alternar entre um leve frio, quando a brisa tocava meu rosto ou um pouco de calor gostoso quando era a vez do sol se manifestar. Tudo isso era muito confortante. E eu percebi que não é tão difícil assim manter os olhos fechados quando se tem tantas coisas gostosas à sua volta.

De repente, passos... check, check; "abro os olhos?"... não! Vamos ver até onde vai isso tudo; lembre-se, "Tratar com amor o que antes eu tratava com medo".

Os passos se aproximam pisando as folhas no chão perto de onde estou sentado. O barulho de galhos secos se partindo deixa uma sensação ainda mais ameaçadora no ar e meu coração se acelera. Nesse momento, vem à minha mente a voz do sábio dizendo que a gente cria tudo o que pensamos e eu estava muito perto de pensar um final nada agradável pra mim naquela estória.

Aí eu me pergunto: "E se esses passos tiverem sido criados por minha mente apenas para satisfazer o desejo de me assustar? Mas, e se for real??" Dúvida! Abro os olhos? Ainda não!

Os passos se aproximam um pouco mais e, bem perto de mim, eu ouço o barulho de algo tentando me reconhecer pelo cheiro. Já é perto demais para qualquer ação, já não faz a menor diferença abrir os olhos agora. E eu reconheço meu esforço e tento me agarrar à verdade proposta pelo sábio: "tocar com amor o que antes eu tocava apenas com medo". Lembrar-me disso, trouxe um pouquinho de paz e tranquilidade; eu estava realmente sentindo menos medo. Mas isso ainda não é amor.

Como amar esse desconhecido que chega sem ser convidado, invadindo meu sossego e me cheirando sem nem pedir licença? "Será que é assim que as mulheres se sentem quando estão passando seus cremes usando suas roupas sensuais e nos aproximando pensamos que elas fazem isso apenas para nos provocar?"

Eu sei bem como é chegar perto de algo belo e sensual e tentar tocar, abraçar, cheirar, acariciar e... sendo sincero: ter prazer! Percebo agora que esse processo sempre teve muito pouco a ver com expressar amor e estava totalmente ligado à satisfação de um desejo... e, findo esse breve devaneio, dou-me conta de que estou novamente frente a frente com esse ser que me fareja a uma distância que eu não poderia considerar "segura". Se essa compreensão não me ajudou a amá-lo, pelo menos afastou (ou substituiu) o medo por alguns instantes e, notar semelhanças dessa situação com o meu próprio comportamento, trouxe o meu companheiro de cena da condição de desconhecido para, de alguma forma, semelhante.

O próximo passo foi um pouco mais simples: eu simplesmente o imaginei como um cão de pelos longos, com uma cor entre o champanhe e o marrom, balançando o rabo como quem quer fazer um novo amigo. E percebi que essa imagem é bem mais fácil de amar.

Ainda de olhos fechado, ouço o quebrar de galhos secos com passadas um pouco mais rápidas acompanhadas de uma voz: "Came on boy, let's go!" e o meu novo amigo latiu algo que poderia ser um "até mais" (pra mim) ou um "já vou" para o seu dono. E me deixou lá pensando (ainda de olhos fechados), que tal isso para uma lição de "tocar com amor o que antes você tocava com medo", hum?

Veja um pouco da influência negativa que o medo pode ter no seu estado emocional e, consequentemente, na sua taxa de Hiperaprendizagem.

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